quinta-feira, 27 de outubro de 2011

centro campista quer amar depois da bola



o caso dá-se nos balneários   
o centro campista quer amar e diz a coisa
antes de entrar no chuveiro    depois
repete para si    já são horas  e eu aqui
então    sai do estádio com a pressa toda  
num carrão gt qualquer coisa    não sei   
lá vai o centro campista    diz o puto
com a camisola do campeão


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

verme e financeiro de elite


O verme parasita a alma dos inocentes e o gozo é mais do que o riso, que se ouve do lado de fora, no lado de cá, na rua que ainda pertence aos inocentes, aos aldrabados. O riso é sem vergonha. O gozo denuncia o verme e ele veste-se de financeiro de elite. Corre as persianas de metal fino, desce ao carro blindado e guarda o riso. O verme disfarçado dá instruções ao motorista e segue na avenida financeira, cada vez mais depressa. Dá-se conta dos inocentes a desaparecerem nas margens da avenida. Dá-se conta e rala-se nada. Mais depressa vai e não conhece fronteiras. Bebe, não fuma e etc. Sobe à central financeira, ao último piso. Agora não passam aviões. Dá-se de novo ao riso e, mais tarde, outra vez ao gozo. Descerá depois ao carro blindado e subirá ao piso de elite. E descerá e subirá, gozando e rindo. Assim, até ao juízo final. 
*
Imagem: Luboff and Doves, de Max Sauco

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

gansos e financeiros


incompreensível é a penugem dos gansos ou a casca verde das nozes
incompreensíveis há muitos    catrefadas deles
o terrorismo financeiro com as suas claras intenções
não é um incompreensível    é por isso que
entre um ganso e um financeiro de elite
não há nada que os distinga quando pensamos em mortalidade
um financeiro de elite não tem penugem e morrerá
*
Imagem: Kouros de Anavissos, 530 aC

domingo, 16 de outubro de 2011

rua 15 de outubro


Uma frase sai de um sonho e diz teoria do homem inventado. Assim, sem mais, sem nuvens em volta, sem ar frio, num golpe de ciência escondida. Homem, aqui, é mais pessoa. Irei procurar essa teoria durante todo o dia e talvez ainda amanhã e depois, depois. É natural que algumas ideias venham autorizar a tal pessoa e também a sua teoria. Se assim for, se houver esclarecimento e se florir a justiça que está no cosmo, é possível que as coisas ardam de vergonha e haja um futuro qualquer que não seja o da devastação por mãos humanas, antes mesmo dos asteróides. Hoje - e ontem, exactamente hoje e ontem - em muitos lugares do mundo, há mobilidade pública em favor das pessoas e alguma teoria irá estampar-se nos rostos, escorrendo, nalguns casos e sem pieguice, com o suor e as lágrimas.
*
Imagem: Cavaleiro, de Gustave Moreau

terça-feira, 11 de outubro de 2011

o escriba e o voo


O hálito das coisas que voam entra na vocação do escriba e amanhece mais cedo. Há a dor e as pássaros, e o escriba não sabe o que escolher. O voo enfraquece a dor e então ele escreve pássaros. Um traço de tinta sobre o papiro e amanhece.

domingo, 2 de outubro de 2011

natureza


Tudo vai a caminho. Com restos, sem restos, tudo vai. A boca não é mais do que a pedra a luzir nem do que o carvão ainda a fermentar. Se uma nervura é capaz de soltar a música, então que dizer do ar? O ar mete-se nos fios do coração, envolve o caminho. Não sei quantas eternidades chegariam apenas para falar do ar metido no coração. Que natureza fala quando falamos assim?