quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

pinchar do melro


Ali, acima da terra, não se dão as ervas. É domínio dos veios da árvore, um relevo de veios. O melro pincha sobre as raízes visíveis, pincha à vontade, sem incomodar as patas com os farripos verdes. E isso que importa no concerto das nações? Nadinha. Vai valendo a putice dos mercados financeiros e outros miseráveis entretenimentos.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

o artista pergunta


nos últimos dias do inverno
e a neve não lhe escorre nos lábios
o artista dá uns passos adiante com a gaiola na mão
afinal    por onde anda a beleza
a pergunta é tão inofensiva que nem aos pássaros ofende
o artista crê que a gaiola é uma luzerna antiga
pousa-a
a paisagem ilumina-se
então    ele espera


Imagem: Noite, de Edward Burne-Jones

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

umbigos e sistemas


Dos sistemas de Ptolomeu e de Copérnico, mais ou menos, vamo-nos lembrando, mas será que nos vem à lembrança o sistema proposto por Tycho-Brahe, o astrónomo dinamarquês da segunda metade do século dezasseis? Na gravura – de um manual português de geografia do século dezoito – estão desenhados os três sistemas. O de Ticho-Brahe é o C. Nele, a Terra está ao centro e em volta giram a Lua e o Sol, e em redor do Sol giram os planetas conhecidos na época, Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno. No último círculo, também em volta da Terra, gira o manto de estrelas. Não se tornou o sistema mais seguido, mas teve uma verdade observada que lhe garantiu a discussão e a possibilidade. Havendo por aí tantos umbigos que são o centro do universo, haveria o sistema de Ticho-Brahe, ou mesmo o de Ptolomeu, de perder o seu fascínio?