sábado, 26 de novembro de 2011

encostados ao cenário


há a mulher que está à janela e sonha
com o homem e um homem
à espreita num bar
mas estes não contam    falo de outros
encostam-se ao cenário e sofrem    compreendem
finalmente que sofrem    
para os que esperam muito dela
muito expectantes    a vida é uma fraude

Imagem: A fonte da juventude, de Lucas Cranach

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

este mundo


Do mel vêm-me os ramalhetes do lameiro com ares de mundo antigo. As vacas iam para a eira cansadas com os seus carros e o chio rasgava o tempo e a paisagem, e agora a lembrança. Eram dias doutro império. Ehhhh boi ehhhhh!, dizia-se com o pau a tocar o jugo, e o carro ia com a lentidão das rodas cantadeiras, alinhavando os trabalhos do futuro. Ouviam-se os insectos e ainda os ferreiros. O mel faziam-no as abelhas. Sim, eram as abelhas. Agora, vão desaparecendo. Se as abelhas desaparecerem que será do mundo?

domingo, 6 de novembro de 2011

pintura

Não é tanto por haver vida em tudo, mas o regalo de o saber. Se algum tumulto se dá ao alcance da vista, estende o braço com lentidão e a paisagem amansa aos seus dedos. A festa nunca abranda. Como é possível? É um optimista e escreve isso com os lábios. Sobre a pintura.

*
Imagem: olhos de Frida Kahlo