Por instantes, ali na Avenida Almirante Reis, em Lisboa, na direcção de uma das entradas para o metro do Intendente, costumava observar um engraxador que montou serviço debaixo de uma arcada junto de uma loja de móveis. Sempre vi o senhor, que era uma figuração do mutismo, sentado no seu banquinho, de costas para os passeantes, de frente para o vidro da loja, e certamente via quem passava ao modo dos abrigados da caverna de Platão. Tinha uma folha de papel fazendo de toalha sobre o assento dos clientes, uma marmita, o talher, e comia com gosto. E era por vê-lo comer com gosto diante da montra da loja, fazendo pausa na obra, que eu desço com a sua imagem para o metro, seguindo eu agora sorte dos meus dias. A loja junto da qual o engraxador praticava o seu ofício chamava-se Móveis Apolo. Chamava-se.
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Imagem: Apolo, vaso grego
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Imagem: Apolo, vaso grego
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