terça-feira, 23 de agosto de 2011

três poemas


EVA
a sombra dela no branco da parede
inteiramente nua
eva é ave insinuada onde há cal
sei que é porque está lá
não assustada com a voz
mas com estes dedos
que lhe escrevem a nudez e depois a plumagem
assim
é muito fácil que eva seja ave


A VIDA JAPONESA NA CALÇADA DE LISBOA
vi inteiramente nua    vi    um pedaço de Japão
uma bandeirinha de sol pôr    de sol nascente    é sempre
uma e outra coisa    um regaço de mundo    o colo
os lagos    Kyoto e a beleza
quando se vê uma bandeirinha do Japão numa calçada de Lisboa
olha-se e pensa-se    olha uma bandeirinha do Japão
papelinho de não sei de quê    delicadamente na rua
inteiramente nua a vida japonesa


EMBORA SENDO TU    NÃO ÉS DA MINHA NATUREZA
ele disse esta manhã   
neva no coração    no teu mistério
e agora?   
não há acordo    disse ela
eu sou
da mesma natureza que os pássaros que conheço
os do quintal   os do bico vermelho
os que vêm bicar as cerejas
e se sou da mesma natureza
vou partir de novo porque antes de aqui chegar
parti de outro lugar
agora vejo    disse ele
o teu coração andou para um rosa diferente   
e afastaram-se   
primeiro ele   
depois ela




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